segunda-feira, 21 de abril de 2008

..:: THE ADVENTURES IN PARÁ ::..

CAPÍTULO V – SAGA MARAJÓ

Nunca estão sozinhos aqueles que estão acompanhados de pensamentos nobres.
Philip Sydney

Esta é uma das aventuras mais incríveis da minha vida.
Uma ilha. Calor de 35°C. Búfalos. Lama. Rios transbordantes. Balsas quebradas. Um carro (sem ar condicionado). Um gaúcho no desconhecido (ta parecendo a abertura da Xena, A Princesa Guerreira). Esses foram os ingredientes para uma experiência sem igual na Ilha de Marajó.
Bom, para quem não conhece a Ilha de Marajó, ela é a maior ilha fluviomarinha do mundo e é onde tem a maior criação de búfalos no Brasil. É cheia de “municípios” típicos de interior, com arquitetura antiga e população limitada em conhecimento e tecnologia, mas um lugar muito bacana.
Pra chegar na ilha de Marajó tem que embarcar em uma balsa em Belém, que eles conhecem como ferry boat, e atravessar, por três longas horas, a Baía de Marajó. Depois de ter dormido, acordado, dormido de novo, chegamos no “porto” de Camará, já na Ilha de Marajó. Saindo do porto, chegamos no vilarejo de Condeixas, um daqueles vilarejos típicos de interior, onde o vizinho mais próximo fica a uns dois quilômetros de distância.
Comecei meu trabalho indo para a cidade de Cachoeira do Arari, uma cidade que pra se chegar tem que ter sorte e rezar muito; rezar muito pro seu carro não atolar, ou pra não ser arrastado por um rio transbordando, ou pra não atropelar um dos milhares búfalos que atravessam a estrada na maior calma possível. Alias búfalo é o transporte favorito de lá; boi? Cavalos? Burros? Isso não te pertence mais!!! Lá o negócio é búfalo mesmo! Mas voltando a falar sobre a ida pra Cachoeira do Arari, o caminho pra lá é um tanto turbulento. São onze quilômetros de estrada de terra (que no Pará o povo chama de piçarra) até chegar a uma balsa que atravessa os carros pro outro lado da estrada a cada hora. Não sei qual o problema deles, mas tenho uma impressão muito forte de que os nativos de lá nunca ouviram falar em ponte, mas não ia ser eu o “Cristóvão Colombo” que ia apresentar essa invenção a eles né! (mas não seria má idéia... já pensou, eles construindo obeliscos em homenagem a mim por levar a modernidade a eles, e sendo elevado ao estado de divindade, dominando a todos?! Ops, acordei!!! Hehehe)
Após a travessia da balsa (que não dá nem quinhentos metros), andei mais cinqüenta quilômetros de estrada de terra – mas terra mesmo – até chegar na tal cidade. Nesse percurso, teve de tudo: lamaçal, manadas de búfalos, chuva torrencial pra colaborar com o atolamento do carro, rios transbordando, pontes de madeira fisicamente impossíveis de se passar (duas tábuas,uma para cada pneu do carro, inspiradas em rampas de troca de óleo com um rio embaixo dela).
Mas cheguei lá finalmente. A cidade era bem aconchegante, super pequena, mas como toda cidade do Pará, desorganizada em último grau. Pra ter uma idéia, fui à prefeitura da cidade pra pedir um mapa. Quando entro na prefeitura me deparo com o que? Com nada! Mas nada mesmo, ninguém pra atender, nenhuma recepção... só faltou a bola de feno passando no meio da prefeitura-fantasma. Pensei que aqueles comércios que só tinham a parte da frente como parte do cenário só existia no desenho do Pica-Pau, mas lá comprovei que realmente não há o que não haja mesmo!
Lá em Cachoeira do Arari, além das prefeituras fantasmas e das estradas com mais buracos do que estradas propriamente ditas, vi palafitas, que ate então só tinha visto em filmes e documentários... Pelos céus, como aquelas pessoas conseguem morar em cima d’água???
Bom, fiz meu trabalho lá, e voltei pra ir pra próxima cidade para arranjar um hotel pra dormir. O grande problema era a balsa: a balsa só funcionava ate às 19 horas. Por sorte cheguei lá as 18:30. embarquei com o carro. A balsa como de costume deu uma ré pra manobrar e virar pro outro lado e.... apagou! Simplesmente parou de funcionar. Achei estranho ela começar a andar na mesma direção da maré e o cara que conduzia a balsa começar a gritar: “ta caindo pro foz! Ta caindo pro foz!”. Nossa, só os céus sabem o meu pavor (auheuaheuah)... rezei pra tudo que é entidade que eu conhecia (entre elas, santos católicos, orixás, devas, bruxas ancestrais, anjos da guarda, espíritos guardiões, xamãs, animais totens...), porque a maré do rio tava muito forte e levava a balsa embora do meu destino; isso tudo as 19:30 da noite, no meio de um rio, no meio da Amazônia.
A balsa continuava indo em direção ao foz na medida em que as horas passavam. Já era 21 horas e não havia resgate, pois o rapaz encarregado pela balsa havia esquecido o celular na padaria; não havia remos pois a balsa era muito grande; não havia sinalizadores porque eles sequer sabiam o que era isso (aliás, sinalizador em terra de índio é fogueira né!!!).
Num dado momento da viagem inusitada a balsa começou a se aproximar da margem do rio; reparei nisso pois o rapaz da balsa começou a gritar novamente, com um discurso diferente: “Cuida pra não bater nas pedras, cuida pra não bater nas pedras!”. Novamente me apeguei ao meu lado religioso, prestes a me ajoelhar já, pois na minha vã imaginação quando uma embarcação bate em pedras ele quebra e afunda heheh... mas NÃO UMA EMBARCAÇÃO DE METAL DAQUELAS!!! Vai saber né!
Quando a balsa se aproximou relativamente das pedras, um dos caras que controlavam a balsa desceu na margem e foi até o vilarejo mais próximo para chamar resgate.
Enfim, o resgate chegou às 22:30, após muitas picadas de mosquito, litros de suor escorrido, e por um triz, cuecas borradas. Porém, o resgate não era bem como imaginava. Era uma embarcação com motor, só que muito menor que a balsa em que eu me encontrava, além do fato de a balsa conter o meu carro sobre ela. De resumo, eles amarraram a balsa ao pequeno barco, na esperança de que ele pudesse puxar a balsa novamente ao seu ponto original, coisa que de fato não ocorreu inicialmente, já que era nitidamente óbvio que o motor daquele barquinho de pescar lambari na lagoa não tinha a força suficiente. Esperamos, então a maré perder força, o que não demorou 15 minutos, até que finalmente o barquinho de pesca se mostrou um “semi-ferry boat”!!!
A balsa finalmente voltou, aos trancos e barrancos ao seu ponto de origem, eu consegui sair dela mais assustado do que criança ao ir pela primeira vez no trem do horror, mas aliviado e tendo a noção de que iria agora chegar a um hotel confortável e limpo (tá, tá certo que o conceito de limpeza e conforto de lá não eram os melhores mas era infinitamente melhor do que o conforto de ser arrastado em direção a uma foz que no final de tudo eu descobri que não era nenhuma foz do Iguaçu, como eu imaginava, mas sim a saída para a baía, e do que ser picado por mosquitos típicos do elo perdido ou de alguma era pré-cambriana, devido ao tamanho gigantesco deles).
E como toda história de bom grado termina com um final feliz, eu fui para o hotel e dormi como nunca havia dormido, com a certeza de que tudo aquilo não foi um sonho e de que ficará gravado em minha memória pra sempre.

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CAPÍTULO IV – OBRIGADO POR NADA

Nós nascemos sozinhos. Nós vivemos sozinhos. Nós morremos sozinhos. E qualquer coisa neste intervalo que possa nos dar a ilusão de que não estamos sós, nós nos agarramos a ela.
Voltaire (François Marie Arouet)


Sabe aquelas pessoas que só fazem a gente perder tempo e desvia nossa atenção pra coisas que elas incutem na sua cabeça, mas na verdade nunca existiram? Pois é, aqui existem muitas pessoas assim. Seja na vida pessoal, amorosa ou profissional, elas estão sempre prontas pra te fazer perder tempo. Mas como sou um cara altruísta, fiz um “versinho” baseado nessas pessoas (e na música Thanx for Nothin’, de Mariah Carey).


Eu nem sei o que dizer
Estou machucado, fui enganado
E estou tão envergonhado
Chorar não consigo, você não faz por merecer

É tão profundo assim
Você só mente e trai
Como se não fosse nada você sai
Como se fosse o fim

Veja, você disse que me amava também
E então acreditei em você
Mas eu não deveria crer
Não queria enxergar além

Que eu estava apenas sendo usado
E você estava apenas me enfrentando
Ei garota, obrigado por nada
Eu nunca soube o suficiente sobre você, querida
Mas já é página virada.



Apesar de pequeno, esses versos querem dizer muito, pelo menos para mim, em relação às pessoas que só te faem perder tempo com sentimentos desnecessários ou inoportunos. Como se não bastasse o calor excessivo daqui...